"Quando Frantiska não estava a ver, quando as sombras se alongavam ao fim da tarde, Sors esticava os lábios e via a sua sombra tocar a sombra de Frantiska.
Quando Frantiska encostava os lábios ao vidro para os embaciar e depois escrever o seu nome, Sors, depois dela sair, encostava os lábios ao mesmo pedaço de vidro embaciado com o nome dela.Um dia o pai entrou na sala quando ele beijava a janela.
Quando Frantiska deixava um pedaço de comida, Sors trincava o bocado que estivera nos lábios de Frantiska. Mastigava beijos, dizia Sors. Engoliu inúmeros ao longo da vida."
Afonso Cruz, "O Pintor debaixo do lava loiças"
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