Ah! todo o cais é uma saudade de pedra!
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Toda a vida marítima! tudo na vida marítima!
Insinua-se no meu sangue toda essa sedução fina
E eu cismo indeterminadamente as viagens.
Ah, as linhas das costas distantes, achatadas pelo horizonte!
Ah, os cabos, as ilhas, as praias areentas!
As solidões marítimas, como certos momentos no Pacífico
Em que não sei por que sugestão aprendida na escola
Se sente pesar sobre os nervos o facto de que aquele é o maior dos oceanos
E o mundo e o sabor das coisas tornam-se um deserto dentro de nós!
A extensão mais humana, mais salpicada, do Atlântico!
O Índico, o mais misterioso dos oceanos todos!
O Mediterrâneo, doce, sem mistério nenhum, clássico, um mar para bater
De encontro a esplanadas olhadas de jardins próximos por estátuas brancas.
Todos os mares, todos os estreitos, todas as baías, todos os golfos,
Queria apertá-los ao peito, senti-los bem e morrer!...
excerto da Ode Marítima de Álvaro de Campos
Diogo Infante (teatro S. Luís) não disse ou declamou o poema, interpretou a personagem do desespero e do delírio em Álvaro de Campos. Esmagou-nos!
Rasgou todos os gritos que, ao longo dos anos, vamos abandonando em papéis soltos, agendas ou livros brancos que ninguém lerá .
E o nosso rio é tão pequeno, face aos oceanos que nos espreitam.
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