terça-feira, 12 de abril de 2016

Eu e os outros


As pequenas histórias são, também, a nossa maior história. Escrevo mais esta para não esquecer...
Onde eu trabalhava, aparecia diariamente um homem que sofria de uma qualquer deficiência mental que não o impedia de nos prestar pequenos serviços (levar o correio, comprar o jornal...). Era acarinhado por todos e, sabíamos, protegido pelo sindicato que, inclusive, lhe dava dormida num sótão da sede.
Gostava, particularmente, de mim e eu correspondia como podia e sabia.
Passaram-se muitos anos, já eu mudara de trabalho e profissão, já esquecera o nosso homem, quando um antigo colega me veio entregar um poster, tamanho "gigante", com a minha cara quando jovem e ainda "bem parecida".
Explicação dada, o sindicato tinha oferecido, ao meu amigo, na brincadeira, uma reprodução gráfica do meu retrato que este conservara na parede até à hora da morte.
Não me lembro do seu nome e recordo tantos outros que nunca o mereceram.


2 comentários:

af disse...

ainda bem que não foi a ourém!... seria um desperdício estar a empacotar fotos, a partir vidros e a colar protetores lençóis e toalhas que já tiveram mais nobre função, em vez de estar a revisitar o lado luminoso da memória e a partilhá-lo com os felizardos que por aqui passam.
talvez não haja nada de mais tocante do que um amor desinteressado e que na sua impossibilidade se eterniza (com muita pena, ninguém vai guardar uma fotografia minha...)
não deixes fugir a inspiração, seja lá isso o que for!...
(já agora, para quando tiveres tempo: https://www.ted.com/talks/elizabeth_gilbert_on_genius?language=pt)

Maria Miranda disse...

Respondo, agora,com violinos: gosto do cheiro das fotos quando se "embalam" e vibro ao som dos vidros que se partem na despedida...
Havia, pois, que preservar entre lençóis e toalhas esta tentação de ter sido "fotografista" por simpatia. E o meu amigo desentendeu!
Com o www. que agradeço, estás perdoado, mas como diria o nosso comum Rui, não repitas!