domingo, 28 de julho de 2013

Há lodo no Cais - 1

Maré baixa. Dez da manhã. Um convite para uma fotografia diferente a partir das areias a descoberto.


Há quem, com o jeito de uma certa modernidade concorrencial, se aventure demais e não meça a consistência do solo… aí, meus amigos, quem chega tarde, como eu, perde a oportunidade de uma reportagem completa sobre os riscos e perigos desta vida.

Há lodo no Cais - 2







Dizem, pelo cais, que o fotógrafo se afundou na lama até onde as pernas terminam (confirmei, como se verifica), levantando ao ar a máquina, qual Camões a salvar as rimas.

Há lodo no Cais - 3






Mas, com o jeito que o desespero empresta, lá saiu o nosso homem do lodo e regressou, apoiado palas vozes de nacionais e estrangeiros, gente anónima que logo o convidou...

Há lodo no Cais - 4






… para um banho purificador nas águas límpidas do Tejo. 

Há lodo no Cais - 5









O nosso fotógrafo aliviado, tão limpo quanto possível!

Há lodo no Cais - 6





Num gesto solidário, ofereceu-se então uma mão amiga…

Há lodo no Cais - 7






…prontamente (?) aceite.

Há lodo no Cais - 8



E num “pas de deux” gracioso, comprometeram-se aos mais rasgados elogios a qualquer fotografia que um ou outro publicasse ou imprimisse, evitando assim os perigos da malfadada concorrência.

Há lodo no Cais - 9




Neste gesto último, que registei ao longe, imagino o convite ao regresso a terra firme, acompanhado de um certo linguarejar bem português, que se faz sentir depois das grandes tempestades. 

sábado, 13 de julho de 2013

A preto e branco






Chamaram-me, um dia, platónica. O meu corpo encolhia-se, escondido de tanto tremer. - Não sou!, pensava, naquele reflectir rápido de quem recusa aceitar o que o latejar do sangue nega.
No entanto, agasalhei muitas vezes a realidade em filmes por estrear, construídos e vividos no calor dos sonhos e das noites.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

A Porta


"A minha mãe e o meu pai partiram um dia carregados de malas e roupas, livros, louças e talheres, sei lá que mais...andaram, andaram, até que chegaram a um sítio muito estranho e vazio. Ou melhor, quase vazio.

- Aqui não há casa nenhuma! -disse a minha mãe, olhando em volta muito aflita.

O meu pai apontou um mapa.

-No entanto, está perfeitamente claro. A nossa casa nova é aqui.

- Mas aqui só há uma porta... Não tem nada de um lado nem do outro. Para ser uma casa era preciso que houvesse janelas, paredes e teto.

- Uma porta é um bom começo.

O meu pai era um sonhador. Bastava-lhe uma nuvem para ver o desenho de um coelho ou de um dinossauro, bastava-lhe uma flor para ver um jardim, bastava-lhe uma porta para inventar uma casa.
...
"A Porta" um conto de José Fanha