sábado, 25 de março de 2017
Carlos e a poesia
O Carlos, com quatro anos, afirmava querer vir a ser "desenhista", "escrevista" ou mágico, este último depressa emendado para a nobre profissão de "duende".
Passados alguns anos, seis para ser exacta, confirma-se a veia desenhista, actualmente com incursões pela banda desenhada, e inicia-se na escrita com umas aventuras líricas de sabor poético. Vejamos:
No papel novinho em folha
Desenhei uma papoila
Subitamente sem hesitar
Saiu do papel a voar
Pousou na terra a cantar
Toda feliz a falar
Sem parar de sorrir
E assim, cruzando o desenhista com o escrevista, se cumpre a magia naquela papoila que voa.
sexta-feira, 24 de março de 2017
Adeus! Adeus!
Devia morrer-se de outra maneira. Transformando-nos em fumo, por exemplo. Ou em nuvens.
Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol a fingir-se de novo todas as manhãs, convocaríamos os amigos mais íntimos com um cartão de convite para o ritual do grande "disfazer" : - Fulano de tal comunica ao mundo que vai transformar-se em nuvem hoje às nove horas. Traje de passeio.
E então, solenemente, com passos de reter o tempo, fatos escuros, olhos de lua de cerimónia, viríamos todos assistir à despedida. Apertos de mão quentes, ternura de calafrios "Adeus! Adeus!"
José Gomes Ferreira
Chefchaouene
Éramos dois em Chefchaouene frente a uma nuvem rosa. Tão só quanto eu, a tua dança convocava o espírito dos céus. Haveria música? Eu tocava-a à noitinha, quando os sapos invadiam a terra e tinham a humidade dos verdes e dos castanhos encantados. A música era real? Era breve? Eram sons do encontro entre o silêncio e o meu corpo? Que música era essa que embalava os meus sentidos?
Fomos duas pessoas a saber beber chá de rosa e menta em Chefchaouene.
quarta-feira, 8 de março de 2017
Anita, a burra
Em Marrocos via-os pequenos, roliços, de pelo longo, como brinquedos em mãos adultas. Voltámos várias vezes àquela feira onde se vendiam e compravam após grandes discussões quanto ao seu preço, à qualidade e à resistência do animal. Tinham, normalmente, um ar doce e triste, como quem sabe que só lhes resta um futuro difícil de trabalhos pesados.
Em Alcochete, na reserva, encontrei o Ernesto, um burro português que comia flores e, por via dos seus excessos, fora separado das fêmeas. Não sei se o Ernesto foi até ao Alentejo...
...mas numa quinta de sobreiros, flores e pequenas lagoas, onde a terra é religião, uma burra escolheu dar à luz no dia 26 de Fevereiro uma cria que foi chamada de Anita.
Sabem porquê?
Em honra da minha amiga Ana que, ao fazer anos, nunca recebera uma tão merecida e bela prenda.
Há aniversários felizes e burros com sorte.
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Almada,
Ginjal 2015
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